Onde os sonhos são imperfeitos e sonhamos com a imperfeição...

27 de janeiro de 2012

Durante a madrugada, a chuva toca minha janela

- E aqui estamos nós de novo.
- Que momento mais melancólico para você aparecer...
- Ah, esses momentos são os melhores para conversar com você!
- Você gosta de me deixar louco, isso sim.

- Você já é louco, por isso conversa comigo.
- Pior é que não tenho que negar esse argumento.
- Dessa vez vai ter como eu te mandar ir embora?
- Advinha!
- Claro que não, nunca tem...
- Na verdade tem, mas você nunca saberá.
- Você se diverte com a minha desgraça, né?
- Ah, não fale assim. É que é nas suas desgraças que eu trabalho mais.
- Desgraçado, quando preciso não ajuda.
- Que injustiça isso! Te ajudo a todo momento!
- Ah é? E onde tava quando eu precisei de conselhos ultimamente?
- Eu te dei! Você que não sabe reconhecer meu esforço.
- Deu, deu... você me deu é mais dor de cabeça...
- Ei! Só porque eu te conheço bem, não quer dizer que vou saber resolver todos os problemas da forma mais agradável!
- Você é que me causou esse meu maior problema...
- Opa! Pera lá! Essa culpa aí não é minha, fale com os responsáveis certos.
- Você é o único ser racional e "sensato" com quem consigo falar.
- Verdade, os outros são terríveis, né? Não pensam em motivos e nem consequências, um horror.
- É, mas você pensa nisso tudo e sempre tá aqui para me lembrar disso.
- Pois é. Que tal deixar eu assumir tudo daqui pra frente? Vai poupar muita dor de cabeça.
- Já tentei isso antes, mas eles não aceitam isso. E espera um pouco, vou deixando você assumir que tive uma das maiores dores de cabeça que já tive!
- Ah, isso foi culpa do outro. Eu fui tentar consertar a besteira que ele fez, e você sabe disso.
- Mas você tinha que fazer justo isso? Você piorou as coisas!
- Eu não piorei nada, só não deu certo o plano. Bola pra frente.
- Como assim?! Por sua culpa eu acabei falando mais do que devia para algumas pessoas.
- A culpa não é minha se você não sabe segurar sua língua...
- A culpa é justamente sua por isso!
- É, dessa eu não escapei... Mas não vai acontecer nada de mais.
- Você já fez todas as ligações possíveis para saber isso?
- Olha, se isso percorrer as ligações possíveis, era porque tinha que chegar ao destino, e iria chegar você falando ou não.
- Fala como se estivesse tudo sob controle.
- E está. Como você não percebe?
- Ah é? Está sob controle? Uma decisão sua lá atr-
- Opa! Isso aí não foi decisão minha, e você sabe!
- Mas você podia muito bem ter feito eu evitar.
- Podia nada. Você é um cabeça dura idiota, faz tudo no impulso.
- Que seja, por causa daquilo que chegamos a como estamos hoje...
- E a culpa é minha? Eu te dei uma solução, você que desistiu.
- Você sabe muito bem porque desisti...
- Porque você é um cabeça dura idiota que só age por impulso e sentimentalista demais, que pensa sempre que as pessoas não podem ter umas pequenas feridas se for por uma causa maior.
- Uma causa que nem a própria pessoa sabe!
- Uma causa que ela não precisa saber. Convenhamos, você que foi fraco e deixou seu senso de moralidade te subjugar novamente.
- Senso de moralidade que você colocou em mim.
- Eu não coloquei nada. Você que acha que tem que ser certinho, que não pode fazer uma coisa errada sem que outras pessoas saibam. Você se esquece que eu to do seu lado, consigo passar por vários obstáculos e proteger informações.
- É... vi bem como protegeu informação esses dias...
- Ei, eu não disse nada de mais. Você que fez um escarcéu louco por nada.
- Eu vou deixar essa passar, porque faz sentido seu argumento.
- Claro que faz sentido, é meu argumento.
- As vezes irrita falar com alguém arrogante como você.
- De nada, também é um prazer falar com você.
- É, pra você deve ser mesmo, sempre fica fazendo bagunça com tudo que penso.
- Essa é minha função, fazer todas as relações possíveis. Mas não tente mudar de assunto.
- Não to tentando mudar de assunto.
- Você se esqueceu que não adianta mentir para mim? Onde eu estava mesmo?
- Falando que eu podia ter seguido com o Plano B, mas meu senso de moralidade é o que mais me atrapalha em fazer o que você diz ser o melhor para mim.
- Ah sim, claro.Você percebeu como sua angústia diminui bastante com o plano B?
- Diminuiu nada, ela aumentou em muito, porque eu tinha medo que o resultado do plano B fosse desastroso.
- Os estragos foram menores do que podiam ser e afetaram uma área menos importante do que a poderia acertar, sua angústia é injustificável.
- Tem certeza? Esqueceu que agora o que era segredo que apenas eu conhecia está em mãos de outra pessoa também.
- Você se preocupa demais. Você acha que a vida dos outros gira em torno da sua? Que as pessoas vão ficar por aí espalhando segredos seus à toa?
- Pois é, parece que tenho um pouco da sua arrogância e do seu egocentrismo...
- E eu fico feliz por isso, de verdade. Seja egocêntrico, seja um pouco mais egoísta. Você pensa demais nos outros, por isso tá nessa situação.
- As vezes eu acho o contrário. O que fiz mostra claramente como sou egoísta e não penso nos outros.
- Tem certeza que vai querer se culpar dessa forma? Até mesmo eu posso te convencer do contrário. Você não pensou apenas em você, e sabe bem disso. Não tente carregar tudo nas suas costas, isso não tira o peso das costas das outras pessoas. Ninguém vai reclamar se você for um pouquinho egoísta, largar o peso das costas e descansar um pouco.
- Bem pontuado. Mas o meu maior peso não posso largar, e você sabe bem disso.
- Não pode novamente porque pensa demais nos outros. Mas dessa vez, não tiro sua razão.
- Obrigado, vindo de você, até que é um alívio.
- Olha só, me senti importante agora.
- Mas o frio e o sono já me chamam para um descanso do dia de hoje. Melhor ir dormir.
- Ah, não se preocupe comigo, eu sei me virar aqui.
- To sabendo disso...
- Bom, boa noite.
- Boa noite, Eu.

Lorhien Wolpart

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