Nada. Estou sentado há vários minutos e nada vem à minha mente. Bato com a ponta da caneta nas folhas ao ritmo da música que sai dos meus fones e nada. Nada... Nada... O eco não me deixa pensar... Ao meu lado, duas senhoras conversam num volume demasiadamente alto a ponto de ser possível entender cada palavra mesmo com a música nos meus ouvidos.
Eu observo cada pessoa, cada passo, e mesmo assim... nada.
Isso talvez seja um sinal...
Vazio
Vazio. Oco. Eco. Nada. Para início, parafrasearei Humberto Gessinger: “nada” não passa de uma palavra que ainda aguarda paciente pela sua tradução. Tradução essa que tentarei definir.
Para cada pessoa que eu olho eu vejo vazio. Essa cafeteria lotada no meio do shopping lotado também está vazia. Ah, claro, o shopping também está vazio. Embora todas essas pessoas estejam aqui, animadas, felizes, a meu ver, elas estão vazias. Sabe aquela sensação que temos quando olhamos para alguém completo? Pois é, eu também não sei. O coração dessas pessoas parece vazio, sem vida. Eu falei mais ou menos sobre isso na segunda edição do Lembranças de um Futuro (Pouco) Distante, claro que com um drama a mais para dar vida à literatura, mas falarei novamente aqui.
Essas pessoas parecem não estar com o coração cem por cento vivo. Parece que elas pararam de sonhar. O casal à minha frente com a filha é um exemplo. O olhar dos dois está pesado, cansado, parecendo pedir socorro sem saber por quê. A criança não. A criança é a única aqui por perto que vive um sonho todos os dias. Tudo para ela é novidade. Agora a pouco ela, tímida, andou até perto da minha mesa para ver o que eu estava fazendo. Fiz uma graça qualquer e ela sorriu correspondendo. Acenei aos pais e eles também sorriram.
O sorriso dela era o esperado sorriso de criança: aquele sorriso autêntico, que contagia e faz todos sorrirem junto. O sorriso dos pais foi um dos sorrisos mais falsos que já me foi dirigido. Um sorriso vazio, assim como seus corações.
Eles agora levantaram e partirem. A criança sempre sorridente, os pais sempre vazios. Talvez eu nunca entenda porque os pais estavam vazios dessa forma. Eu espero que eu nunca entenda...
Agora até mesmo as mesas estão ficando vazias.
Uma coisa que eu quero deixar claro: vazio não é infelicidade, não é solidão, não é desânimo. Solidão é estar sozinho em meio a centenas de pessoas. Infelicidade é a consequência da solidão. Desânimo é consequência da infelicidade. O vazio é apenas... vazio, oco. Como uma caverna que repete tudo que você grita para ela. Como um coração sem vida. Como uma vida sem sentimentos. Como uma vida sem sentimentos correspondidos.
Algo Parecido com o vazio é a desmotivação. Não é preciso estar triste para estar desmotivado. Nem é preciso se sentir derrotado para estar desmotivado. Para estar desmotivado, basta estar vazio, basta não ter um motivo para levantar da cama e viver o dia, basta não ter um motivo para concluir algum objetivo ou buscar algum sonho.
Vazias como minha xícara de café, todas as pessoas para quem eu olho parecem buscar seus objetivos, mas sem saber por que o fazem.
Dois amigos se sentaram na mesma mesa antes ocupada pelo casal já citado, e conversam animados sobre algo que eu não consigo entender. Estão trajados formalmente, é provável que trabalhem em um escritório e ocupem um cargo importante. Talvez estejam falando sobre alguma promoção na empresa, ou então sobre a última rodada do futebol europeu, não sei, e pouco importa saber. É uma conversa vazia. Por dentro eles estão tão vazios quanto qualquer um ali perto. Tão vazios quanto suas xícaras de café. Todas as noites eles se perguntam, antes de dormir, por que eles deveriam acordar no dia seguinte. São independentes, têm um bom emprego, têm uma conta bancária relativamente bem recheada, mas por quê? Não têm esposas, noivas ou namoradas, nem filhos. Já não precisam se preocupar com faculdade, nem com dinheiro. A relação com os pais nunca foi boa, então para que acordar? Para que continuar? Eles não sonham mais, não tem ambições, não tem motivos para lutar. Na realidade, eles não têm nem uma luta sequer para lutar.
É triste dizer isso, eu sei que é, mas é essa a realidade que eu vejo. Algumas vezes eu realmente acredito que o cenário em que se passa o segundo Lembranças de um Futuro (Pouco) Distante é verdadeiro. Hoje eu vejo que a maioria das pessoas não vê um motivo concreto para levantar da cama, mas mesmo assim levantam na esperança de encontrar o tal motivo. E é triste dizer essas palavras sabendo que várias queridas pessoas se encontram nesse estado.
Vai entender?
Só sei que eu, às vezes, também preciso de um motivo maior para fugir desse vazio. Vazio esse que conseguiu infectar até mesmo as palavras desse Pensamento Capturado.
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Oi?
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