Onde os sonhos são imperfeitos e sonhamos com a imperfeição...

14 de fevereiro de 2011

Pensamentos Capturados #7 - Olhar

 Pessoas. Elas estão em todos os lugares. Cada um possui olhos diferentes, rostos diferentes. Fazer gestos diferentes. Tem nomes diferentes. Tem vidas diferentes. mas mesmo assim todos fazem parte do grupo chamado "pessoas". Todos temos tanto em comum e ao mesmo tempo somos tão diferentes. É a beleza do paradoxo.
 Todos temos característica semelhantes, mas há um detalhe que funciona exatamente da mesma forma, não importa cor, credo, tamanho, idade, ideologia, gosto, nem nada.

Olhar

 Passei uns bons minutos pensando em como começar. Em vão. Observando as pessoas que se encontram aqui, percebi que seus olhares dizem muito mais do que milhares de palavras.
 Logo que sentei nesta mesa, uma senhora me encarou de uma forma não muito amigável. Aliás, eu abaixo a cabeça para rabiscar estas folhas e quando levanto, essa senhora ainda me encara. Seu marido, distraído com seu novo celular, não da à ela a atenção que deseja. Seus olhos dizem que sua mente está cansada. Ela deseja ir embora. Ela deseja chegar em casa e tentar aproveitar o resto do domingo. Ela deseja descanso. Por que ela estava me encarando? Não sei. Talvez fosse só mais uma das várias pessoas que estranham o jovem escritor solitário que surge de repente tomando café, rabiscando, observando...
 Um senhor, outro solitário jovem escritor, senta-se à outra mesa, um pouco mais distante. Sim. Você leu certo. Outro jovem escritor. Solitário, assim como eu. Pensador, assim como eu. Um jovem, assim como eu. Como eu sei disso? Já o encontrei aqui várias vezes, e todas as vezes ele veio com seu notebook e teclava desenfreadamente, parando apenas para um gole no seu café. Apesar dos seus talvez setenta anos, é jovem. Seu olhar é como o de alguém que acabou de passar pela adolescência. Claro que não possui o vigor da juventude, suas mãos tremem involuntariamente, suas costas curvadas doem, mas ainda assim a juventude no olhar permanece. Tem algo nesse senhor que desperta minha atenção e admiração. Espero um dia descobrir o que é.
 Falando em juventude, um casal de namorados acaba de sentar à minha frente. Um não, dois casais. Um dos dois casais é de adolescentes, o outro já saiu dessa época há anos. O casal de adolescentes possui o típico olhar apaixonado. A intimidade mostra que se conhecem há anos, mas não estão juntos há tanto tempo. Embora a inocência dos dois seja óbvia, eles se amam e vão fazer o possível para tornar realidade o conto de fadas "juntos para sempre". Mas o outro casal faz o papel de contraste. Eles estão juntos há muito tempo, são amigos um do outro, existe carinho e preocupação, mas já não há amor. Eles não se amam. O olhar do rapaz diz que ele não se importa com a falta do amor. Está acomodado, mas se romance dos dois acabasse amanhã, ele não sentiria falta. A moça não está feliz. Ela sabe que o amor acabou, quer reverter a situação e lembra, com o coração apertado, do início do namoro, cheio de romantismo e com o fogo da paixão aceso. Mas ela também está acomodada. Ela sonha com uma família, sonha com a felicidade, mas a falta de esperança (e de fé) a faz não fazer. Desejo que ela consiga lutar para ter seus sonhos realizados.
 Duas senhoras se sentaram à mesa do meu lado, e um pouco depois apareceu uma garota, talvez neta de uma das duas senhoras. As três estão conversando animadas, mas devido ao barulho não consigo entender suas palavras. A garota argumenta, ri, sorri, mas mente. Seu rosto diz que ela gosta de estar lá com as duas senhoras, mas seus olhos a denunciam. Ela não quer estar ali, mas se preocupa em não deixar as duas senhoras saberem disso. Ela quer estar longe, mas não é da sua casa que ela sente falta. Seus olhos são brilhantes como de uma apaixonada, mas são tristes como de uma solitária. Ela se preocupa em não demonstrar isso, mas atrás das lentes do óculos é possível saber a verdade. Ela sabe disso, mas não teme.
 Um jovem rapaz brinca com a filha e esposa ao meu outro lado. O jovem senhor que citei, agora levanta e vai embora. As duas senhoras e a garota saem logo após ele. Um grupo de amigos conversam e riem em volume alto. Porém um olhar especial atrai minha atenção. É um olhar jovem, porém um pouco cansado. É um olhar otimista, mas relutante em continuar assim. É um olhar cheio de esperança, mas ao mesmo tempo é um olhar um tanto quanto desmotivado. É um olhar que busca algo, mas não sabe o que. É um olhar que buscar alguém, mas não sabe quem. É um olhar um pouco confuso, um pouco insano. É um olhar que às vezes fantasia. É um olhar que de vez em sempre se livra de alguns pensamentos e sentimentos contra a vontade. É um olhar pertencente à um jovem que às vezes parece velho. É um olhar às vezes paradoxal, às vezes lógico e às vezes totalmente emocional. É um olhar escuro que vive num misto de lucidez e ingenuidade. Bom... Pelo menos é isso que eu vejo nos olhos desse rosto refletido no meu copo d'água.

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