Onde os sonhos são imperfeitos e sonhamos com a imperfeição...

31 de janeiro de 2011

Lembranças de um Futuro (Pouco) Distante #1

 Olá, amiguinhos!
 Como vocês vão?
 Hoje eu venho por meio desta comunicar o início de uma nova série aqui no Sonhos e Imperfeições: Lembranças de um Futuro (Pouco) Distante, o qual chamarei carinhosamente de Lefupodis. Mentira, não vou chamar desse jeito... Vai ser LF(P)D mesmo...
 Nesta série pretendo levar um estilo mais de pequenas crônicas. Diferente dos Pensamentos Capturados, aqui não será uma conversa direta com o leitor. Serão pequenas histórias que vierem à mente, micro-contos, rascunhos, idéias, etc, etc, etc.
 Para começar, postarei um manuscrito da época de adolescente. Ahh adolescência, como eu sinto sua falta. Sim, fiquei com preguiça de digitar alguma coisa nova.
 Sem mais enrolação, sintam-se a vontade para sonhar...



 Lembro-me bem, como se fosse semana que vem, daquela tarde. O Sol estava tímido, escondido entre as nuvens, relutando em aparecer. A areia úmida refrescava meus pés e a brisa leve que vinha do mar se responsabilizava pelo clima gelado.
 Perdido nas palavras impressas nas páginas daquele livro, eu demorei a notar um rapaz sentado na areia, próximo à linha desenhada pelas ondas que faziam força para se separar do mar. Com seus, talvez, vinte anos, o rapaz repousava os braços nos joelhos e olhava fixamente para o horizonte. O que ele pensava? Não sei. Nunca saberei, mas algo me fez observá-lo.
 Poucos minutos passaram e uma moça, aparentemente da mesma idade, caminhou em direção ao rapaz e colocou uma toalha em suas costas. Ela se preocupava com ele. Começou entao a ventar e o rapaz agradeceu pelo cobertor improvisado que veio bem a calhar. Agradeceu, mas sem tirar os olhos do horizonte.
 Ela se sentou ao lado dele.
 A presença da moça prendeu mais ainda a minha atenção. Havia algo inexplicável naqueles dois. O silêncio prosseguiu por uns instantes até que o rapaz o quebrou e o seguinte diálogo prosseguiu. Ou pelo menos, o que eu lembro dele:
 ─ Isso me acalma, sabe?
 ─ Oi? ─ ela perguntou, pedindo para que ele repetisse.
 ─ O horizonte. Ele me acalma. Claro, não só ele. A areia, o mar, o barulho das ondas batendo na água, o som da espuma se formando. É belo. É fantástico. ─ E com um sorriso tímido, ele finalizou a explicação ─ E ainda tem gente que nega a existência de Deus...
 ─ Entendi. ─ sim, ela entendeu. Ela entendia muito bem como ele se sentia. ─ Por isso que você está aqui?
 ─ Sim. Sai para caminhar um pouco e resolvi, na volta, parar aqui, sentar e olhar.
 ─ Sua mãe está preocupada sabia? ─ brincou.
 ─ Ahahaha! Pode deixar, eu me desculpo com ela quando eu voltar. Mas e você? Como sabia que eu estaria aqui? ─ perguntou o rapaz, finalmente descolando o olhar do horizonte e focalizando os olhos da moça.
 Havia algo naquele rapaz. Algo em suas palavras. Algo em seu coração. mas era algo reprimido. Algo do qual ele fugia, talvez instintiva e inconscientemente, talvez por ser prudente. De uma forma ou outra, ele fugia. Eu arrisco dizer que ele nem sabia da existência daquele "algo".
 ─ Eu não te conheci ontem. ─ ela riu e continuou ─ Quando você some dessa forma, é porquê você saiu para refletir. Estava esfriando, então pensei que você poderia estar aqui, daí trouxe essa toalha.
 Ela se preocupava com ele. Seu sotaque sulista desmentia qualquer afirmação de que o sul é lugar de pessoas frias. Havia algo naquela moça. Algo em seus olhos. Algo em seu coração. Também era algo reprimido, ela também fugia, mas diferente do rapaz, ela tinha pleno conhecimento da existência desse "algo". Isso era claro. Suas palavras escondiam. Eram palavras de uma amiga. Palavras de uma criança que tenta mentir para a mãe quando quebra um vaso. Mas seus olhos... Os olhos nunca mentem, e ela conhecia e temia essa verdade. Eram olhos apaixonados. ISSO! Olhos apaixonados! Porém, eram olhos tristes. Ela não queria reprimir a sua paixão, ela estava sendo forçada àquilo, talvez pelo medo de amar.
 O rapaz apenas sorriu e voltou seu olhar para o horizonte. Meu coração acelerou quando comecei a lembrar de algumas histórias do passado. A conexão daqueles dois era incrível, visível. O rapaz sentia o mesmo. Agora fazia sentido. Seus olhos, assim como os da moça, eram olhos apaixonados. Mas ao contrário dela, ele não reprimia por medo, e sim por zêlo. Ele também se preocupava com ela, e conhecia o que se passava no coração da moça. Reprimia porque conhecia os motivos dela. Ele sabia que assumir aquilo traria apenas dor.
 O silêncio mais uma vez prosseguiu até que fosse quebrado novamente pelo rapaz:
 ─ É muito bom ter você aqui. Fico feliz por você ter vindo passar esse final de semana comigo.
 Ela sorriu. Havia algo naquele sorriso. Havia amor. Havia conforto. Havia confiança. Havia segurança. Usando o frio como desculpa, ela envolveu seus braços no dele e deitou a cabeça no ombro do rapaz. E o silêncio dessa vez não fora quebrado. Nada precisava ser dito. Um compreendia o outro. Um se preocupava com o outro. Um queria ser do outro. E os dois tinham todas essas certezas.
 Por mais de meia hora, eles ficaram ali, abraçados, silenciosos. Quando resolveram partir, eu continuei naquela praia aproveitando o final da tarde.
 O Sol já havia se posto quando voltei da viagem que fiz dentro da minha memória. Lembrei-me do tempo em que eu tinha aquele mesmo olhar apaixonado. Lembrei-me do tempo em que eu sonhava. Um tempo que me fez crescer muito. Lembro muito bem como esse tempo acabou. Eu estava sentado da mesma forma que aquele rapaz, observando, refletindo, vivendo um sonho bom. Lembro-me bem do exato momento em que a queda de uma lágrima de felicidade foi transformada em um grito de desespero quando uma voz fria e aguda me disse essas exatas palavras: "Bem-vindo à vida real".
 Levantei-me, peguei as minhas coisas e voltei para casa. Caminhei lentamente enquanto pensava naqueles dois. Caminhei lentamente desejando com toda a força do meu coração que um dia eu pudesse vê-los novamente, mas sem nenhuma repressão, sem que eles estivessem fugindo de si mesmos. Até porque, uma coisas dessas não deve ser escondida, muito menos reprimida. Com esperança eu caminhei. E caminhei por muito, muito tempo...

───────────────────────────────────────

Eu sou assim sabe? Lembro de coisas que nunca aconteceram, esqueço de outras reais... 
Vai entender?
Tem twitter? Corre lá no meu
Prometo que um dia eu aprendo a tabular o texto

Nenhum comentário:

Postar um comentário