Onde os sonhos são imperfeitos e sonhamos com a imperfeição...

28 de maio de 2011

Pensamentos Capturados #11 - Boa sensação estranha

         Sabe aqueles dias em que você acorda com uma sensação estranha? Hoje está sendo um dos meus. Aliás, todos os meus últimos dias (semanas e meses) têm sido desta forma.
         É uma sensação estranha. Algo que me ajuda a permanecer perdido no tempo. “Que dia é hoje? Ah, claro!”. Às vezes essa sensação se torna estranhamente bem-vinda. Estranhamente porque ainda é a mesma sensação estranha. Bem-vinda porque em alguns momentos ela me faz sonhar, imaginar, fugir da rotina; outras vezes ela me faz reparar em coisas que naturalmente eu não repararia; e em outras vezes ainda me faz fechar os olhos involuntariamente imprimindo na minha cabeça cenas, imagens ou lembranças agradáveis o suficiente para colocar um sorriso bobo no meu rosto. E essa sensação não é estranha no sentido de ser bizarra, e sim no sentido de ser desconhecida, misteriosa, imprevisível, mas ainda assim, uma boa sensação estranha. Confuso? Quase muito.
Sensações Boa sensação estranha
         “Fala pra mim a primeira coisa que vier na sua cabeça! Preciso de um tema para escrever!”
         “Sensações.”
         “Valeu”.
         É impossível. De verdade, é impossível generalizar as sensações. Eu tentei e não consegui. Eu tentei várias vezes e não consegui. Por isso, para não fugir muito do tema, resolvi tentar falar sobre essa tal de “boa sensação estranha(mente bem-vinda)”.
         Para esse humilde escritor-amador que vos escreve, existem inúmeras maneiras de alcançar esta boa sensação estranha: através de uma música, de um sonho da noite passada, de um filme. Ou de um texto, um livro, uma poesia ou um quadro. Ou então uma frase, uma cor, uma dor, um sabor ou um cheiro. Ou... Ok, todos entendemos.
         Tudo isso te faz sentir sensações diferentes, claro, mas algumas delas, em alguns momentos ou em algumas situações, durante algum evento que ocorre (ou ocorreu) durante alguma determinada época, te levam a sentir essa boa sensação estranha.
         E essa boa sensação estranha muitas vezes se comporta como uma faca de dois gumes. “Mas ela não é boa?” – Sim. “Então?” – Não é um gume ruim. São dois gumes, um bom e outro bom que te faz enlouquecer (no bom sentido)...
         É uma ótima sensação. Ela tem o poder de te fazer sentir como se estivesse vivendo o melhor dia da sua vida. Você acorda bem depois de uma ótima noite de sono, depois de um sonho bom. Os pássaros cantam, as flores parecem mais coloridas, as pessoas mais felizes, e tudo parece estar dando certo. Você acorda nesse dia crente de que nada ruim pode acontecer. Certo? É aí que o outro gume ataca.
         Sem aviso prévio, você se perde. Fica agoniado, com aquele frio na barriga sabe? Uma mistura de receio com um medo cuja origem não da para dizer exatamente, mas que está lá. De repente, tudo, e quando eu digo “tudo” é tudo mesmo, parece conspirar para que você continue perdido. Uma música tocando no momento exato; um verso dessa mesma música que você antes nunca tinha reparado simplesmente parece surgir do nada; uma pessoa desconhecida na rua que fez um gesto específico; outras pessoas na mesma rua que trocam palavras à toa e você pega uma delas no ar; tudo. Você se confunde, perde o chão, algumas coisas parecem parar de fazer sentido, outras ganham sentidos que antes não tinham, e todas as músicas que antes faziam você ver o mundo mais feliz, agora te fazem perder a atenção, tropeçar na rua, esbarrar nas pessoas e quase bater a cabeça em cada maldito poste que você podia jurar por Deus que não estava ali antes.
         Claro, nem sempre as coisas acontecem nessa ordem. Às vezes você acorda perdido e depois se encontra. E depois se perde de novo. Aí se encontra de novo. E se perde de novo. E vive nesse ciclo infinito por um tempo finito (que paradoxo bonito). E agora chegamos na parte que mais te confunde e que, paradoxalmente, te faz o bem maior: a transição entre a total confusão e a (quase) razão.
         Imagine: você está todo feliz, tropeçando e desviando dos malditos postes, quando de repente algo ou algos ou alguém ou alguéns simplesmente acontece e você passa a entender porque nada estava fazendo sentido. Você passa a, ao invés de voltar a ver o mundo feliz e florido, ver um mundo seu, longe, onde os problemas de antes parecem não existir mais, as preocupações parecem que nunca chegaram a existir e o momento que isso acontece parece passar em segundos, enquanto o momento que isso não acontece parece passar em algumas eternidades. E tudo isso, para o ainda humilde escritor-amador que voz escreve, traz uma das sensações que eu mais gosto de sentir e que talvez seja a que me faça mais bem: segurança.
         “Mas o que a segurança faz de tão bom assim?” – Lembra-se da parte em que eu falo sobre a boa sensação estranha fazer, às vezes, você sentir como se nada pudesse dar errado? No meu caso, isso acontece por causa dessa segurança. Quando a “transição” ocorre, eu sinto como eu se eu tivesse ido para o tal mundo onde parece não haver problemas ou preocupações, e esse mundo me faz sentir algo... Indescritivelmente bom. E isso tudo me faz um bem incrível, é uma sensação parecida como a que sentimos durante um abraço forte que nos faz ver sentido no que sempre deveríamos ter visto. Esquecer os problemas, esquecer a pressão do dia-a-dia, esquecer as complicações e passar um momento em que nada de ruim existe e em que parece que nada de ruim pode acontecer, definitivamente não tem preço.
         Não tem preço a sensação de segurança, de proteção. Não tem preço o bem que isso faz. E não preço o que “o outro gume” da boa sensação estranha causa depois que ele ataca.
         Não tem preço a busca por essa sensação estranha e nem tem preço a motivação que essa busca traz. Não tem preço a lucidez que essa boa ótima sensação estranha traz.
         Não há nada que possa apagar do coração o que se sente com essa boa sensação estranha. E não há nada que possa apagar seu desejo por mais e mais e mais.
         Não há nada que supere facilmente as noites de sono gastas tentando buscar novamente o tal mundo particular (tá, nem tão particular assim) e nem as noites de sono nas quais passamos dentro desse mundo.
         Não há nada tão fascinante quanto o paradoxo que entramos quando essa sensação resolve nos prestigiar com a sua presença. Não, há sim: mais fascinante que o paradoxo que entramos é somente nossas frustradas tentativas de sair do meio dele.
         E não há quase nada tão confuso quando este Pensamento Capturado. Mas eu avisei. Eu disse logo no início que era um assunto quase muito confuso de se descrever...

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Talvez tenha ficado um pouco contraditório.
Isso é bem provável.
Mas da pra entender. Eu acho. Espero que dê. =)
Ahh, da sim, não é tão difícil. Eu nem precisava ter falado tanto =P

Um comentário:

  1. Muito bom esse texto, expressa exatamente como eu me sinto :]

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