Onde os sonhos são imperfeitos e sonhamos com a imperfeição...

19 de maio de 2011

Pensamentos Capturados #10 - Inocência

          Há alguns dias, eu comecei a reparar no que as pessoas falam, no que as incomodam, o que elas desejam, e em (quase) tudo mais que tiram o sono dos trabalhadores responsáveis pelo desenvolvimento sócio-econômico da nação em que vivem.

          Cheguei a uma conclusão que era óbvia, mas quase ninguém percebe. Todas, e quando eu digo “todas” eu me refiro à maioria massiva de pessoas que eu observei, se preocupam tanto que se esquecem das coisas simples da vida; analisam com tanta complexidade um problema que não imaginam que a solução pode ser simples.
          Mas qual o sentido dessas linhas? O que eu quis dizer com isso? Isso tudo é causado pelo tema deste PC. Ou melhor, pela ausência dele.

Inocência

          Há poucos dias eu, por acaso, li algumas cartas que umas crianças norte-americanas escrevem para Deus. Foi pedido para que elas escrevessem poucas linhas agradecendo ou pedindo ou dizendo qualquer que quisessem. Todas, e quando eu digo “todas”, dessa vez eu me refiro a todas mesmo, escreveram agradecendo ou pedindo ou dizendo coisas simples.

"Querido Deus, o Senhor queria que a girafa fosse desse jeito, ou foi um acidente?"

"Querido Deus, talvez Caim e Abel não tivessem brigado tanto se eles tivessem seus próprios quartos. Isso funciona comigo e com o meu irmão"

          Algumas chamaram a minha atenção para a visão que as crianças têm do mundo. Uma delas dizia:

“Deus, o Senhor não precisa se preocupar comigo. Eu sempre olho para os dois lados antes de atravessar a rua.”

          Para essa criança, o único perigo que o mundo oferece para ela é um carro em alta velocidade com o motorista distraído.
          Outra chamou minha atenção ao fato de alguns objetos serem tão úteis, mas não percebemos:

"Querido Deus, eu acho que o grampeador é uma das suas maiores invenções."

          Confesso que eu ri um pouco dessa última. Ahahaha!
          As cartas são falsas? Sei lá, acho que não, mas internet né? Tudo pode ser falso hoje em dia...
          Uma outra me mostrou a dificuldade que todos temos em nos relacionar bem e ficarmos em paz com as outras pessoas:

"Querido Deus, eu aposto que é muito difícil para o senhor amar todas as pessoas de todo o mundo. Há somente quatro pessoas na nossa família e nem isso eu consigo."
     
          Exagero meu interpretar essa carta da forma como eu disse? Eu acho que não. Com certeza essas crianças não pensaram em nenhum momento no que suas palavras poderiam significar. E com certeza eles não pensaram no que suas palavras significariam para um jovem brasileiro-paulista-mogiano-escritor-blogueiro-amador. Claro que não pensaram, porque o mundo delas não é o mesmo que o nosso.
          No momento em que escrevo essas linhas, enquanto o café esfria na minha frente, há quatro crianças correndo e brincando no pátio aqui do lado da cafeteria. Na verdade, para todos os lados que eu olho, há crianças brincando e explorando seus mundos de fantasia e inocência. Cada uma delas vive em seu mundo particular, constroem seus universos, suas histórias, seus castelos, seus dragões, seus sonhos.
          Para o menino brincando com a sua bola, que pinga demasiadamente alto, esse exato momento não é nada mais ou nada menos do que ele deseja. Sua mãe está preocupada com os problemas no casamento, a dor de cabeça no trabalho, as contas vencidas que estão acumulando. O menino está preocupado em não deixar a bola quicar duas vezes.
          Para a menina brincando com seu urso de pelúcia, nada pode atrapalhar aquele momento feliz. Para todas as outras crianças do mundo, não há mistérios para conseguir a tão sonhada felicidade.
          Para nós, adultos, adolescentes, ou qualquer outro ser que já perdeu sua inocência, sempre há outras preocupações, sempre há algum motivo para nos estressarmos, sempre há algum problema nos preocupando e impedindo que vivamos momentos espetaculares, justamente por passarmos tempos demais pensando nesses problemas.
          Se hoje eu pedisse a você, leitor, para escrever uma carta para Deus agradecendo, pedindo, perguntando, ou falando qualquer coisa, como seria essa carta?
          A minha talvez fosse algo parecido com isso:
           “Deus, obrigado por cada dia, cada momento, cada detalhe. Se eu tiver o direito de pedir algo ao Senhor, eu poderia pedir de volta essa inocência? Para que eu pudesse voltar a ver tudo de uma forma mais simples. Para que eu pudesse ver soluções simples. Para que eu pudesse voltar a apreciar as coisas simples. Para que não haja mistérios para eu conseguir alcançar a tão sonhada felicidade.”
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Caramba, tava conseguindo tabular o texto, agora não ta mais.
Bocejei.
As cartas eu tirei daqui. Tem outras lá pra quem quiser ver.
Antes que os professores de inglês venham dizer que eu não traduzi ao pé da letra: eu sei disso.

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