Onde os sonhos são imperfeitos e sonhamos com a imperfeição...

2 de dezembro de 2010

Pensamentos Capturados #3 - O Café

          Sento, saco minhas folhas, minha caneta e penso: o que escrever?
          Olho para os lados, e só vejo um assunto...

O Café
          Visivelmente um Café é um ambiente diferente com pessoas diferentes que agem de formas diferentes. Por exemplo: um senhor de 60 anos, no máximo, talvez um gerente ou engenheiro, trajado socialmente, senta-se à mesa da minha frente com um pão-de-queijo, uma garrafa de água mineral e um jornal qualquer. Esse mesmo senhor, que num churrasco come carne com a mão, bebe cerveja direto da garrafa até cair, aqui age como um intelectual, lendo seu jornal, devorando seu pão-de-queijo aos poucos e bebendo sua água de um copo descartável.
        Pessoas, segundo o estereótipo, chiques frequentam esses lugares. Por quê? Pra que? Vejo uma senhora maquiada e bem arrumada conversando animada com um rapaz aparentemente mais novo. Ela não trabalha mais, seu marido falecera há algum tempo e seus filhos já estão crescidos. Com suas jóias feitas de bijuteria, diz à neta que já irão embora, pois sua conversa com o rapaz já está acabando. A questão é: por que ela se arrumou tanto para tomar um café com a neta? “Ela gosta de se sentir bem”, você me responde, mas precisa se arrumar a ponto de parecer que vai a um casamento? Ela não é do tipo de mulher chamada de “perua”, apesar de estar arrumada, ela não chama atenção, talvez por causa do ambiente em que ela se encontra.
          Talvez você ainda não tenha entendido aonde eu quero chegar...
          É simples: estereótipos existem porque as pessoas os alimentam.
          Se não fosse essa senhora bem arrumada que acabou de partir ao mesmo tempo em que o senhor que estava sentado à minha frente, esse estereótipo de que os Cafés são lugares finos talvez não fosse alimentado por outras pessoas.
          Um Café não tem nada de fino. É só um lugar em que cobram caro por uma bebida simples e presente na vida de todos, ou quase todos. 
          Um café é um ambiente familiar. Vejo agora sentando numa mesa a poucos metros da minha, um casal com seu filho pequeno. Ela, dona de casa, sente faltas desses momentos de reunião, por isso está aproveitando cada segundo que ela passa sentada àquela mesa. O filho, tão pequeno, ainda não tem noção do que é o mundo. Ele está ocupado demais vivendo sua própria fantasia enquanto imagina mundos inteiros, os quais ele visita com seu companheiro inseparável: um boneco de pelúcia do Pateta, que ganha vida ao adentrar o mundo de fantasia. Conheço uma garota maravilhosa que tem um boneco do Pateta idêntico. Talvez ela tenha sido tão sonhadora quanto este menino. Ele, o pai, um microempresário bem sucedido, sente-se maravilhosamente bem, acompanhando o crescimento do filho, suas fantasias, suas brincadeiras, tudo isso apesar da enorme quantidade de trabalho. A única coisa que sente falta é de sua mãe, que partira há alguns meses.
          Um Café também é um local de descontração. Vejo três colegas de trabalho aliviando a tensão de um dia difícil no trabalho. Eles não têm a mínima noção da importância do serviço deles, e talvez nunca tenham. A última rodada do Brasileirão, sem dúvidas, é o assunto da conversa. Daqui a alguns minutos, eles irão cada um para suas casas ficar ao lado de suas famílias. Um deles está com problemas no casamento e com o filho rebelde, por isso, mais do que ninguém, ele precisa de um Café para descontrair e aliviar o stress, enquanto pensa em como resolver seus problemas.
          Um Café também é um ambiente para namorar, claro! Por que não? Entrando agora no Café, vejo um casal jovem, 17 e 20 anos. Animados e felizes, eles fazem o pedido e sentam numa mesa qualquer. Cortejando-a, ele puxa a cadeira para ela sentar, trocam sorrisos, e engrenam uma conversa qualquer. Eles se conhecem há um bom tempo, talvez sejam amigos de infância, a intimidade deixa isso óbvio. Ela, estudante do último ano do ensino médio, sabe o que quer da vida. Sempre amou a arte, por isso pretende ser designer, enquanto seus desenhos continuam sendo apenas um hobby. Ela sempre o terá ao seu lado, mesmo que às vezes duvide disso, e isso fará com que ela não desista dos seus sonhos. Ele, técnico eletricista, iniciou a faculdade de engenharia elétrica há um ano, e trabalha quase dez horas por dia, sem contar o tempo que gasta até chegar no local onde trabalha. Ele não ganha muito bem, mas ele não se importa com isso, porque sabe que seu dia irá chegar. Ele sabe que também sempre a terá do se lado, porque ela o ama mais que tudo na vida. Ela o faz feliz, o completa, e se eles acreditassem no destino, diriam que estão destinado a ficar juntos para sempre. Talvez eles passem por problemas, rompimentos, mas o amor dos dois é muito maior que qualquer dificuldade, e juntos eles conseguirão enfrentar qualquer coisa. Eu invejo este rapaz. Poucos são felizes como ele, e menos ainda morrem felizes como será com ele. Ela não sabe ainda, mas daqui a dois dias, quando farão aniversário de três anos de namoro, ele irá pedi-la em casamento depois de um jantar romântico num restaurante chique. Ele economizou por seis meses para comprar o anel de noivado e as alianças. Em lágrimas de felicidade, ela não hesitará em aceitar o pedido.
          Mas um Café, antes de tudo, é um ambiente de reflexão. Um exemplo? Eu. Devo ser a pessoa mais estranha aqui. Quem pede um expresso de R$3,50 e fica sentado por mais de uma hora escrevendo, enquanto escuta pela segunda vez o mesmo disco no seu MP3 Player? Desde que sente aqui e comecei a escrever nessas folhas, não houve uma só alma que não olhou com espanto para o estudante solitário com camiseta preta, calça jeans e rabiscando alguma coisa em folhas de fichário. Eu, particularmente, nunca vi ninguém fazendo isso, além de mim. Todas as pessoas que estavam aqui quando eu cheguei já partiram. E eu estou atrasado para a prova que terei daqui a pouco. Não ligo. Às vezes sinto vontade de desabafar algo, seja da forma que for. E papel e caneta são meus melhores amigos nessas horas.
          Se alguém ainda estiver lendo essas linhas, responda a si mesmo: Você é feliz? Se é, largue essas folhas e passe-as para outro alguém. Se não é, o que você está esperando para ser? Acho que está na hora de sermos como aquele menino que eu descrevi: precisamos ser sonhadores. Precisamos fantasiar. Precisamos ser felizes. Então que sejamos...
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Quando será que vai chegar a minha vez?

2 comentários:

  1. Então, que sejamos! Excelentes palavras, como de praxe. Me encanta seu progresso contínuo... ;)

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  2. Valeu brow =]
    feedback sempre é importante
    e é bom saber que alguem lê oq eu escrevo ^^
    mesmo que as vezes seja um desabafo, faz um bem sem tamanho saber que pelo menos uma pessoa lê =]

    brigadão
    abraços

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