Onde os sonhos são imperfeitos e sonhamos com a imperfeição...

15 de julho de 2012

De mim para mim

Eu estava simplesmente sentado esperando o ônibus naquela madrugada escura e fria que marcava o início de um novo dia. Sentia o sereno gelado no rosto rachando os lábios pelo frio. Estou perdido em um sonho acordado sem pensamentos, quando um Santana branco atravessa meu campo de visão. Ele estaciona em frente ao prédio do outro lado da avenida e liga o "pisca-alerta". Seu condutor, um senhor de cabelos brancos, sai do carro. Ele aperta uma das campainhas do painel do prédio e logo em seguida vai em direção ao capô o do veículo e mexe em alguma coisa no motor. Deixa o capô aberto e dessa vez entra no prédio. Cinco minutos depois ele sai do prédio, fecha o capô e saí com o veículo, seguindo o fluxo da avenida.

Essa exata cena se repetiu por mais três dias.

Era um rotina. Uma rotina estranha e confusa. Ele estava preso nela e não podia escapar. Cada mísero detalhe fazia parte daquela cena. Foi o que pensei no quarto dia. Como pode alguém ficar preso de forma tão forte em uma rotina e não perceber?

Mas espere, o que estive fazendo nesses quatro dias?

Estive sempre sentado, com frio, olhando para o nada, perdido em pensamentos inexistentes. Todos os detalhes eram os mesmo. Eu estava preso em uma rotina e não percebia. Eu estava como aquele senhor. Todo dia levantando cedo, no mesmo horário, fazendo as mesmas coisas na mesma ordem. Aquele pensamento me fez perceber que até a vontade de quebrar a rotina já se tornou rotineiro. Eu vou aos mesmos lugares, sempre vejo os mesmos rostos, sempre tenho as mesmas sensações, sempre falo as mesmas coisas e sempre penso que tenho que mudar tudo isso. O que de fato faço para mudar minha rotina? Eu quero realmente sair da rotina? A vida é tão organizada e tão bem feita quando é rotineira que tenho medo de sair da rotina e as coisas se complicarem. Mas o que é a vida sem complicação? O que é a vida quando não temos aquela sensação que nos faz perder o rumo?

Há tempos não sinto essa sensação. Sinto falta dela. Há tempos meu coração se tornou rotineiro e sem graça, que não faz mais nem cócegas no meu estômago. Há tempos eu me perco em sonhos acordados sem pensamentos. Há tempos desejo voltar no tempo.


Há tempos anseio a liberdade.


Lorhien Wolpart

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